Q.I. EDUCAÇÃO – MAIS UM PASSO




Em 1997 comecei a ter idéias que ficaram rodando em minha cabeça por bastante tempo. Não sou um cara que tem idéias sólidas desde o princípio, costumo ver tudo meio enevoado, meio sem forma. Parece que sei o que é, mas ao mesmo tempo as idéias parecem um pouco afastadas, como se uma cortina estivesse entre elas e sua percepção clara. Parte dessas idéias surgiu em 1997, com a Fábrica de Quadrinhos... Com o tempo, a Fábrica se distanciou do projeto que eu havia imaginado, mesmo sem muita nitidez, e tomou uma direção própria. Em 2002 decidi sair e iniciar a QUANTA, junto com Octavio Cariello. Nesta época, ainda trabalhava com o mercado norte-americano de quadrinhos e por isso me afastei da escola até julho de 2005, quando voltei e assumi a empresa. Cariello partiu para iniciar sua carreira literária, enquanto eu decidi parar a minha carreira de desenhista, ilustrador, para me dedicar apenas a Quanta. A cortina foi se abrindo devagar e fui entendendo melhor o que eu queria.

Já antes de 2005, comecei a entender o que queria que fosse a QUANTA, qual projeto queria trilhar. Senti que era um caminho que valia a pena. Gosto do projeto, da idéia. A Quanta não é um trabalho, ela é um tipo de visão... E vi que o que me interessava era trabalhar as colunas que considero importantes: arte, educação e cultura – nas quais talvez (talvez!) meus esforços pudessem ajudar. Não me considero uma pessoa à altura disso, não me coloco como quem tem esse tipo de responsabilidade, ou missão. Seria, no mínimo, pretensão demais me considerar alguém que tem isso como objetivo por se julgar capaz, mas queria tentar colaborar com esse tipo de caminho de alguma maneira. É nesse sentido que a ACADEMIA DE ARTES, o ESTÚDIO DE ARTES e agora o Q.I. EDUCAÇÃO surgiu.

Não gosto de planejar muito. Não consigo ver as coisas acontecendo de maneira rígida, engessada. Tento ver e fazer tudo de maneira fluída. Aprendi um pouco disso com a minha própria vida, minhas próprias experiências. As coisas nunca aconteceram muito como planejei ou como gostaria que acontecessem. Antes me revoltava com isso, mas agora entendo como deixar tudo rolar mais livre abre oportunidades e caminhos, que são interessantes e ensinam bem mais do que se tudo corresse conforme o planejado. Vejo que, muitas vezes, as coisas acontecem com força própria e tento entender como isso se desenrola para conseguir seguir o fluxo sem agredir o acontecer natural. Acho que as coisas possuem mais valor assim... Do contrário elas se vão, porque foram forçadas e nunca tiveram qualidade.

De uma ou outra forma, acho que todos nós ensinamos. Estamos aqui para isso. Todos nós somos fonte de alguma lição. Podemos observar como os outros agem, ver como cada um é e, com isso decidir quem somos e como queremos agir. As atitudes, as decisões de cada um ensinam muito sobre a vida. Com o tempo vemos como cada gesto, palavra, ação, leva a algum resultado. Pelo menos é assim que funciona comigo.

Na minha profissão também é assim. Como trabalhei com desenho e ilustração, sempre senti que “apenas” trabalhar com isso geraria um tipo de vazio se não pudesse passar o que aprendi a alguém. Sinto que tudo faz parte de um único movimento e, por isso pensei no projeto da escola, da Quanta Academia de Artes. Acho que, até mesmo em termos de energia, não podemos conter as coisas só para nós mesmos. Você nunca pode colocar coisas novas em um armário lotado. Você tem que esvaziar o armário para criar espaço para o novo. É como o vazio dentro da lâmpada, que gera a luz. Ensinar para mim é isso. Enquanto passo informação, aprendo. É um tipo de oroboros, símbolo do ciclo de evolução voltando-se sobre si mesmo, converso sempre sobre isso com os outros professores daqui. Aprendemos muito quando ensinamos porque isso não é um processo fechado... Eu não estou só, não quero ficar só aprendendo comigo mesmo, do contrário, para mim, isso se torna um processo autofágico. Não dá pra aprender coisas apenas vindo de mim, acho que tem que ter o outro, que vai me passar idéias e visões diferentes, que até me desagradem, mas que me levam ao desafio de entender coisas pelas quais tenho resistência. Acho uma pena quando vemos parada uma força que pode gerar conhecimento para outros, estancada, sem passar nada adiante.

Pensando assim, sempre tive comigo a vontade de melhorar a cabeça das pessoas. De novo, não me vejo como alguém que seja tão esperto a ponto de fazer isso, mas isso não me impede de tentar. Não vou ficar parado por medo de ser julgado de maneira equivocada.

Acho que pretendo criar um espaço onde podemos tentar melhorar a cultura, o conhecimento e a criatividade. Uma proposta para melhorar um pouco a forma pela qual as pessoas vêem o mundo e a vida. Acho que arte, cultura e educação são ferramentas para isso.

Nossa visão sobre o mundo muda quando temos alguma aproximação com o pensamento artístico, porque arte nos permite uma visão mais subjetiva, mais simbólica, mais metafórica de fatos da vida. Afasta um pouco a visão pragmática e cria caminhos menos duros, menos engessados. A arte abre novos ângulos de visão. Muitas vezes, quando entendemos uma metáfora ela é até mais profunda do que o fato em si, porque dentro dela existem significados e temas que atingem um tipo de consciência e sabedoria que não pode ser condensado em palavras. É um conhecimento tão grande que fica ali, em silêncio, e que não precisa ser falado.

Educação e cultura fazem o mesmo trabalho. Todos eles compõem um novo cenário para a visão de mundo e vida das pessoas. E penso que é isso que sempre vou querer fazer da minha vida.

Por sorte, tenho do meu lado pessoas que entenderam e curtem o que estou querendo fazer e que se esforçam um bocado pra compreender um cara meio velho, meio maluco e que vai descobrindo o que quer fazer com o tal projeto da Quanta (que agora inicia o Q.I. EDUCAÇÃO) e com a vida. Assim, agradeço a paciência e a amizade de todos os que estão abrindo esse caminho comigo, mesmo que vendo tudo enevoado à frente.

Para os que estão conhecendo o Q.I agora, sei que podem pensar; “mas esse Q.I. EDUCAÇÃO é tipo ensino médio”... E é, MAS, uma coisa que sempre tentei falar pros meus filhos sobre escola (embora eu mesmo tenha tido uma relação bem estranha com essa instituição), é que ela tenta passar pras pessoas os conhecimentos que a humanidade acumulou durante todos estes anos. A escola passa a ciência do conhecimento, a reunião de informações sobre nossa história, onde vivemos, como vivemos, como reagimos aos fatos, o que sabemos e como convivemos com o ambiente físico que nos cerca, aprender com ele, e como tentamos entender a nós mesmos e nosso universo espiritual, mental, egóico e por aí vai.

Não podemos ignorar ou tratar isso tudo de forma descuidada, querendo ou não, estas são as informações sobre o que sabemos até agora, o que conseguimos descobrir até o momento. É preciso que saibamos que se dissermos que a escala do conhecimento vai até mil, não podemos acreditar que estamos no novecentos e noventa e nove. Talvez estejamos no dez, no máximo onze... Que mal faz tentar saber o que essa escala onze nos ensina?

Pretendo ampliar o Q.I para outros caminhos, discutir outros temas... Mas, por enquanto, vamos tentar fazer um bom trabalho com as disciplinas que estão no blog, e tenho procurado trabalhar com parceiros que estão a fim de ensinar.

Para mim, a Academia, o Estúdio e o Q.I são parte de um mesmo projeto. Todos sendo diferentes e a mesma coisa ao mesmo tempo.

A Quanta então dá mais um passo para onde quero ir. Arte, cultura e educação. Não sei bem onde tudo isso vai dar, mas acho que será uma aventura interessante.

Um grande abraço pra todos,

Marcelo Campos

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